O texto não é simplesmente um conjunto de palavras; pois se
o fosse, bastaria agrupá-las de qualquer forma e teríamos um:
"O ontem lanche menino comeu"
Veja que neste caso não há um texto, há somente um grupo
de palavras dispostas em uma ordem qualquer. Mesmo que colocássemos estas palavras em uma ordem
gramatical correta: sujeito-verbo-complemento, precisaríamos ainda organizar o nível semântico
do texto, deixando-o inteligível.
"O lanche comeu o menino ontem"
O nível sintático está perfeito:
sujeito = o lanche
verbo = comeu
complementos = o menino ontem
Mas o nível semântico apresenta problemas, pois não é possível que o
lanche coma o menino, pelo menos neste contexto.
Caso a frase estivesse empregada num sentido figurado e em
outro contexto, isto seria possível.
"Pedrinho saiu da lanchonete todo lambuzado de maionese,
mostarda e catchup, o lanche era enorme, parecia que "o lanche
tinha comido o menino."
A coesão e a coerência garantem ao texto uma unidade de
significados encadeados.
Há, na língua, muitos recursos que garantem o mecanismo
de coesão:
* por referência: Os pronomes, advérbios e os artigos são os
elementos de coesão que proporcionam a unidade do texto.
"O Presidente foi a Portugal em visita. Em Portugal o presidente recebeu várias
homenagens."
Esse texto repetitivo torna-se desagradável e sem coesão.
Observe a atuação do advérbio e do pronome no processo de elaboração do texto.
"O Presidente foi a Portugal. Lá, ele foi homenageado."
Veja que o texto ganhou agilidade e estilo. Os termos “Lá” e “ele”
referem-se à Portugal e Presidente, foram usados a fim de
tornar o texto coeso.
* por elipse: Quando se omite um termo a fim de evitar sua
repetição.
"O Presidente foi a Portugal. Lá, foi homenageado."
Veja que neste caso omitiu-se a palavra “Presidente”, pois é
subentendida no contexto.
* lexical: Quando são usadas palavras ou expressões sinônimas de
algum termo subsequente:
"O Presidente foi a Portugal. Na Terra de Camões foi homenageado por intelectuais e
escritores."
Veja que “Portugal” foi substituída por “Terra de Camões”
para evitar repetição e dar um efeito mais significativo ao texto, pois há uma ligação
semântica entre “Terra de Camões” e intelectuais e escritores.
* por substituição: É usada para abreviar sentenças
inteiras,
substituindo-as por uma expressão com significado equivalente.
"O presidente viajou para Portugal nesta semana e o ministro
dos Esportes o fez também."
A expressão “o fez também” retoma a sentença “viajou para
Portugal”.
* por oposição: Empregam-se alguns termos com valor de
oposição (mas, contudo, todavia, porém, entretanto, contudo) para tornar o texto
compreensível.
"Estávamos todos aqui no momento do crime, porém não
vimos o assassino."
* por concessão ou contradição: São eles: embora, ainda
que, se bem que, apesar de, conquanto, mesmo que.
"Embora estivéssemos aqui no momento do crime, não vimos
o assassino."
* por causa: São eles: porque, pois, como, já que, visto que,
uma vez que.
"Estávamos todos aqui no momento do crime e não vimos o
assassino uma vez que nossa visão fora encoberta por uma névoa
muito forte."
* por condição: São eles: caso, se, a menos que, contanto que.
"Caso estivéssemos aqui no momento do crime, provavelmente teríamos visto o
assassino."
* por finalidade: São eles: para que, para, a fim de, com o
objetivo de, com a finalidade de, com intenção de.
"Estamos aqui a fim de assistir ao concerto da orquestra municipal."
É muito confusa a distinção entre coesão e coerência, aqui
entenderemos como coerência a ligação das partes do texto com
o seu todo.
Ao elaborar o texto, temos que criar condições para que haja
uma unidade de coerência, dando ao texto mais fidelidade.
“Estava andando sozinho na rua, ouvi passos atrás de mim,
assustado nem olhei, saí correndo, era um homem alto, estranho,
tinha em suas mãos uma arma...”
Se o narrador não olhou, como soube descrever a personagem?
A falta de coerência se dá normalmente:
Na inverossimilhança, falta de concatenação e argumentação falsa.
Observe outra situação:
“Estava voltando para casa, quando vi na calçada algo que
parecia um saco de lixo, cheguei mais perto para ver o que acontecia...”
Ocorre neste trecho uma incoerência pois se era realmente um saco de lixo, com certeza não
iria acontecer coisa alguma.
Outro tipo de incoerência: Ao tentar elaborar uma história de
suspense, o narrador escolhe um título que já leva o leitor a concluir o final da história.
Um milhão de dólares
“Estava voltando para casa, quando vi na calçada algo que
parecia um saco de lixo, ao me aproximar percebi que era um
pacote...”
O que será que havia dentro do pacote? Veja como o narrador acabou com a história na
escolha infeliz do título.
A incoerência está presente, também, em textos dissertativos
que apresentam defeitos de argumentação.
Em muitas redações observamos afirmações falsas e inconsistentes.
Observe:
“No fundo nenhuma escola está realmente preocupada com a qualidade de
ensino.”
“Estava assistindo ao debate na televisão dos candidatos ao governo
de São Paulo, eles mais se acusavam moralmente do que mostravam suas
propostas de governo, em um certo momento do debate dois candidatos
quase partem para a agressão física. Dessa forma, isso nos leva a concluir
que o homem não consegue conciliar idéias opostas é por isso que o mundo
vive em guerras freqüentemente.”
Note que nos dois primeiros exemplos as informações são
amplas demais e sem nenhum fundamento. Já no terceiro, a conclusão apresentada não
tem ligação nenhuma com o exemplo
argumentado.
Esses exemplos caracterizam a falta de coerência do texto.
Finalizando:
Tanto os mecanismos de coesão como os de
coerência devem ser empregados com cuidado, pois a unidade
do texto depende praticamente da aplicação correta desses mecanismos.